terça-feira, 1 de julho de 2008

Quem é Charles G. Koch?

Você deveria conhecer este senhor. Mas o fato é que ninguém nunca ouviu falar dele. Nada de notável aqui, se não fosse a circunstância de ser ele dono da maior empresa privada dos Estados Unidos (http://www.forbes.com/lists/2007/21/biz_privates07_Americas-Largest-Private-Companies_Rank.html) e o nono mais rico americano (http://www.forbes.com/lists/2007/54/richlist07_The-400-Richest-Americans_Rank.html). Dentre suas muitas companhias está a nada mais nada menos, Lycra. Sim, todos os dias você veste o que este senhor produz, de maneira até muito íntima, por assim dizer. E como é que nunca ouviu falar dele?

Eu também nunca tinha ouvido falar do senhor Koch até ser selecionada para o programa de fellowship Koch Summer Fellow Program. De início não me preocupei com o porquê do nome Koch, mas, durante a primeira semana de seminários, vim a descobrir este homem, patrocinador do meu verão libertário em Washington. Koch é engenheiro e, sabe-se Deus porquê, gosta de Escola Austríaca e de mercados livres. Ele é o grande donatário dos institutos liberais dos Estados Unidos. E o mais interessante: Koch atribui seu sucesso empresarial à sua filosofia de gestão, a MBM, ou market-based management, que visa aplicar os princípios da economia de mercado dentro de uma organização, mais ou menos algo que eu sempre tive em mente; por isso a descoberta e Koch foi ao mesmo tempo contentamento e decepção - afinal de contas, achei que tinha alguma idéia completamente original.

Mas, por que é que nunca ouvimos falar de Koch? Bem, o que acho interessante a este respeito é que Koch não abriu o capital de sua empresa. Inclusive, a Forbes atribui a ele a resposta "só sob meu cadáver" a respeito de uma possível abertura. Há alguma explicação para isso? Ainda estou virando as páginas do seu livro "Science of Sucess", e espero encontrar uma resposta em breve. Não me espantaria, entretanto, ser esta uma estratégia deliberada para fugir das avacalhações que a política impõe aos negócios. Abrir capital é excelente, mas pode te deixar em uma posição muito frágil. Especialmente quando o negócio é tão sujeito a controle político quanto é o petróleo. Um pequeno rumor, que, de outro modo, em nada arranharia seu capital, pode vir a demolir uma empresa sólida. Governo dos EUA decide fazer Guerra no Iraque, ações sobem. Governo dos EUA adota a mistura de etanol e gasolina, ações caem. Ambientalistas armam escândalos, ações caem. Novas regulações são votadas e - zaz - ações caem de novo.

Todos esses movimentos do mercado acionário, muitas vezes, em nada refletem a situação econômica da empresa, sendo extremamente relacionados a uma situação política momentânea. Isso torna a vida dos empresários bastante complicada. Ou se entra no jogo político-midiático para ganhar privilégios, como faz a grande maioria em suas associações promíscuas com o poder, ou se tenta escapar da política sendo o mais independente possível. É notável que grande parte das tarefas diárias dos CEOs envolve politicar. Sendo Koch libertário, nada mais natural que manter-se fechado e desconhecido, e exercer de longe influência aqui ou ali num ou noutro think tank na luta para liberalizar mercados.

Já bastante interessante é a situação quando o dono majoritário de uma empresa é o governo. Pensem na Petrobras. Ser pública torna a vida da Petrobras muito fácil. Ela pode explorar o que quiser sem muitos problemas com legislação ambiental. Pode escapar dos ímpetos regulatórios e da atuação de grupos de interesses. A Petrobras é um assunto de Estado, por mais que seus gententes queiram negar. Faz parte da identidade coletiva nacional. Ninguém reclama de poluição em águas profundas. Ninguém protesta quando há derramamento de óleo. As ações não caem por causa do Álcool. Claro, a regulação governamental será sempre favorável, pois o governo, como um todo, é parte interessada, diretamente. Assim, para empresas governamentais, parece ser um grande negócio abrir o capital - ironicamente, as estatais estão livres do peso político.

Mas Koch é dono de uma empresa privada. E libertário. Por isso, ao invés de gastar tempo com politicagem e capas de revistas, incentivando intervenções e favores governamentais para seu setor, Koch gastou tempo com empreendedorismo e gestão. Aparentemente, vem dando certo. De todas as grandes empresas, a Koch Corporation foi a única que cresceu continuamente nas últimas décadas, sucesso que Koch atribui aos princípios do Market-Based Management. Ponto para o livre mercado. :)

2 comentários:

Erick Vasconcelos disse...

Koch é visto com desconfiança nos rincões libertários mais radicais. Se você ler o New Libertarian Manifesto, de Samuel Edward Konkin III, vai ver poucas e boas a respeito dele. Uma busca rápida no mises.org também dá resultados interessantes. Procure por "Kochtopus".

Libertocrata disse...

É vero. Aliás, no mundo libertário, há milhões de querelas e disse-que-disse. Eu particularmente acho a briga patética; seja lá quais forem os meios escolhidos, que cada instituto siga em paz com seu caminho;

E acho que se os fundos são do Koch, é ele mesmo que deve ser o decisor final (property rights, e o Rothbard aceitaria isso, hehe).

No fim das contas, o movimento perde força... uma pena!