Por algum motivo que não me recordo agora estava eu falando das disparidades regionais do Brasil, quando me veio um estalo: o sertão ainda é como é porque não tem direitos de propriedade!
Disse isso entusiasticamente, com o sorriso de quem ouviu uma boa fofoca. Isso porque, ao tentar explicar à minha amiga indiana o funcionamento da indústria da seca no nordeste, me lembrei de um trabalho apresentado à Rogata, anos atrás. Veio-me à tela, logo após figuras esquálidas dos retirantes de Vidas Secas, as imagens milagrosas das uvas sendo colhidas pelo Carrefour. Qual pode ser a diferença para explicar esses dois nordestes? Yeah: Propriedade!

No sertão mais sertanejo as pessoas mudam de lugar para lugar procurando água e as fronteiras das propriedades não são bem estabelecidas. Retirantes são nômades. E nômade é a condição daqueles que não têm propriedade - Afinal, esta requer que se assente, que se misture o labor ao solo, como diria Locke.
Alguém que detém a posse em título precário não vai investir trabalho ou dinheiro em uma terra - ficará lá até esgotar todos os recursos, e se mudará para outro lugar. Já quando a propriedade é certa e garantida, há investimento e geração de riqueza, como no caso do super.
Minha hipótese é que, para variar, os incentivos governamentais são perversos neste sentido: Cisternas e açudes são construídos como bens públicos ou em supostas terras de coronéis, restringido, por incentivos ou coerção, o instituto da propriedade. Assim, a indústria da seca empurra os verdadeiros donos da terra para a condição de retirantes, levando o problema a se perpetuar.
Como gostei da idéia e achei-a bastante plausível, é provável que eu vá estudá-la mais a fundo. Se chegar a um resultado positivo, aviso por aqui...
Nenhum comentário:
Postar um comentário